No silêncio da cidade
Impressiono-me com o silenciar desta cidade agitada, à chegada de um anoitecer. Um silêncio tão quase absoluto que mesmo morando distante, se ouve o barulho dos caminhões passando pela BR-262. Ao caminhar pelas ruas o som das casas, antigamente creio que se ouviam as vozes de seus moradores conversando ou brigando entre si, hoje em dia ouço alguns variados sons como; doces caindo do Candy Crush; algum fazendeiro colhendo em sua Fazenda Feliz; o velho/novo som de uma mensagem chegando pelo WhatsApp ou Facebook, ou então de alguém xingando seu celular por estar travado como se o celular fosse outra pessoa e isto resolvesse o problema.
Em uma destas caminhadas noturnas nestas ruas não muito seguras, de longe avistei um jovem com uma briga diferente com um telefone público. Parecia tentar fazer uma ligação, porém sem sucesso. Ia passando meio distante dele aos passos largos, eis então que ele me chama; “ô moço será que cê não pode me fazer um favor?”. Achei estranho e um pouco suspeito, uma pessoa pedindo ajuda em um “orelhão” não é muito normal. O respondi de longe dizendo que talvez sim. E ele disse: “É que num “tô” conseguindo digitar os números aqui. “Cê” disca pra mim?” Pelo olhar o sujeito parecia meio bêbado, aproximei meio desconfiado e confirmei que realmente ele estava bêbado, motivo dele não conseguir digitar os números.
Após algumas tentativas sem sucesso o número me parecia estar errado, o celular dele travou e com muito custo tentou destravar e encontrar o número novamente. O numero qual tentava discar era de sua mãe. Ao encontrá-lo me mostrou e me explicou; “Olha! É este aqui o numero da minha mãe, quero ligar pra ela porque estou com saudades e ela mora longe. “Cê” disca de novo?”. Peguei o celular e ele repetiu; “Tá vendo ai ó ta escrito mãe não é?” Em seguida ele completou; “Só que ta sem acento.” Ao reparar no nome do contato estava escrito “mai”. Mas tudo bem dei a ele um desconto, pois em sua simplicidade ele estava buscando a um recurso de comunicação pública tão quase esquecido quanto à própria conversa física. E por fim ele conseguiu falar com sua mãe.
Texto publicado 10/04/2015 no jornal local - Jornal Serranense