“É moço essas vida da gente é
igualotransito” disse o simpático senhor com cigarro de palha pendurado na
orelha, que naquela manhã eu decidira dar carona. Fiquei curioso para entender
um pouco mais sobre o que aquele velhinho teria para falar dessa sutil
comparação.
O trânsito estava o verdadeiro
caos das 7 horas da manhã. Todos ansiosos por chegar ao seu destino antes de soar
o sino de entrada para o trabalho.
Diante da afirmação do velhinho,
manifestei um breve sorriso e o respondi com um suave resmungo “É verdade, a
vida da gente é uma merda mesmo igual o trânsito”. Ele deu uma risada baixa
seguida de uma tosse que condenava seus anos de consumo do cigarro de palha.
Percebi que ele ansiava por meu
questionamento a respeito de sua afirmação e então mandei; “Mas porque o senhor
acha que a vida da gente é igual ao trânsito?”. Ele se ajeitou no banco, deu
uma olhada no relógio, olhou para longa fila de carros parados na nossa frente
e disse; “Uai, oiá só pro cê ver, na rua ta todo mundo querendo andar pra
frente, com pressa, e na vida da gente taméim, todo mundo quer crescer e quer
crescer rápido.”. E até que esse pensamento fazia sentido, portanto concordei
com o velhote, “É verdade seu zé, inclusive se pudesse, eu até amarrava uns
balão aqui no carro aqui pra poder passar por cima de todo mundo, porque esse
trem aqui ta parado demais.”. Ele sorriu de novo e continuou. “Pois é, intuam
todo mundo quer crescer e andar, mas nas rua, procê poder andar do seu jeito cê
num pode passar nas mema rua que ta todo mundo passano, ce tem que tentar uns
caminho diferente, algum caminho que ninguém conhece, que usa menos, talveiz um
caminho mais longe, mas pelo menos ce num vai ficar parado.”.
Ele deu uma pausa, como se
estivesse “matutando” seu raciocínio na cabeça e em seguida continuou; “E na
vida da gente tameim é assim, ce num pode fazer as mema coisa que ozoto tão
fazeno, aprender só as mema coisa ou fazer do memo jeito, porque se oce fizer e
aprender as mema coisa do memo jeito, ce vai fazer no memo tempo que ozoto e as
mema coisa do memo jeito que todo mundo ja ta fazeno.”.
Ele parou novamente analisando o
que acabara de dizer, como se tivesse percebido a confusão que poderia ter
causado, e por fim concluiu; “Ce entendeu? Ce num pode fazer as mema coisa que
todo mundo já ta fazendo do memo jeito, ce tem que tentar fazer seus trêm do
seu jeito, no seu tempo e do jeito que for melhor pra você. Porque se ocê ficar
só seguindo ozoto toda vida, cê num vai pra lugar nenhum!”. Após sua pausa,
balancei a cabeça concordando com seu raciocínio. “Entendi sim senhor! E o
senhor tem razão, a gente tem que tentar uns caminhos diferentes na vida da
gente.”. Ele sorriu e disse; “E principalmente no trânsito né sôh, porque se
não a gente fica igual nois ta aqui agora, parado, aliás acho que vô seguir meu
conselho e vô a pé memo, com meus passo curto, porque se eu for acompanhar
ocêis, não vou pra frente.
Ele desceu, agradeceu a carona
até ali, arrumou a calça na cintura, e seguiu caminhando. Acredito ter chegado
onde quer que ia primeiro que eu, pois além do trânsito parado o pneu furou.